A Pregação do Evangelho que Ninguém Ignora
- Jamie Bambrick
- 19 de set.
- 5 min de leitura
Por Jamie Bambrick
Você provavelmente já ouviu apresentações ortodoxas do evangelho que não geraram nenhuma reação. Alguém passa por todos os fatos essenciais da fé cristã: a criação e queda do homem, a vinda de Cristo como Deus e Homem, Sua morte, sepultamento, ressurreição e ascensão — e até mesmo a teologia pode estar fundamentalmente correta: que Ele morreu em nosso lugar para levar os nossos pecados, que a salvação é somente pela graça mediante a fé, e que n’Ele podemos nos tornar uma nova criação. Até aí, tudo certo.
E então, o que acontece?
Muitas vezes, nada. Um grande “tanto faz”. “E daí?”
Isso não parece muito certo. A reação à pregação do evangelho no livro de Atos, por exemplo, era elétrica. Quando as pessoas ouviam aquela mensagem, ou criam pela fé aos milhares ou pegavam pedras para matar os mensageiros. Era ou um avivamento ou um motim.
Então, o que estamos perdendo? Por que nossa mensagem soa vazia?
A resposta está na aplicação. Para que o evangelho desperte esse tipo de reação, ele precisa de fato ser aplicado aos ouvintes, e é justamente aí que tantas vezes falhamos.
Veja, se dizemos às pessoas que Jesus morreu para salvá-las de seus pecados, a grande pergunta que vem a seguir é: “De quais pecados você está falando? E você está dizendo que eu os cometi?” Mas é exatamente nesse ponto que a maioria dos pregadores encarna dois dos sete anões, Dunga e Dengoso, ficando tímidos, vagos e cheios de nuances. “Bem, ahm, eu não sei exatamente. Tenho certeza de que você é bem-intencionado e de bom coração. Você não é um pecador sério. Mas, sabe, deveria ser gentil com as pessoas. Já foi maldoso com alguém? Isso é algo a evitar, suponho.”
Certo. Não é exatamente o tipo de pregação que “corta o coração”.
Em contraste, se você ler os sermões do evangelho em Atos, verá um tema comum, presente em todas as apresentações, com exceção de uma. (A exceção é a mensagem aos gentios em Atos 10, que já eram descritos como “tementes a Deus”, o que talvez explique a ausência do que estou prestes a destacar.) O fio condutor é que todas essas apresentações do evangelho mencionam, pelo nome, um pecado específico comum entre os ouvintes, e um chamado para se afastarem dele.
Em seu sermão inaugural em Atos 2, Pedro diz à multidão em Jerusalém: “Homens de Israel, escutem estas palavras: Jesus de Nazaré, homem aprovado por Deus diante de vocês com milagres, prodígios e sinais que Deus fez no meio de vocês por meio dele, como vocês mesmos sabem — a este Jesus, entregue conforme o plano determinado e a presciência de Deus, vocês crucificaram e mataram pelas mãos de homens ímpios.”
Lembre-se: isso foi cinquenta dias após Cristo ter sido morto, e Pedro lhes proclamou que eles tinham visto o Messias no meio deles, na cidade de Deus, comprovado por Seus milagres, e em vez de reconhecê-Lo, o entregaram à morte. Ele fecha seu sermão com a mesma lembrança: “Portanto, toda a casa de Israel saiba com certeza que Deus fez Senhor e Cristo a este Jesus, a quem vocês crucificaram.”
Não foi apenas uma apresentação neutra de fatos do evangelho; foi uma condenação severa de seu pecado coletivo.
Mais tarde, em Atos 7, quando Estêvão fala aos líderes religiosos que se orgulhavam de sua piedade rigorosa e suposta honra aos profetas que Deus enviara a Israel nas gerações passadas, o que ele lhes diz? “Homens de dura cerviz e incircuncisos de coração e de ouvidos, vocês sempre resistem ao Espírito Santo. Assim como fizeram seus pais, vocês também fazem. Qual dos profetas os pais de vocês não perseguiram? Eles mataram os que anteriormente anunciavam a vinda do Justo, a quem agora vocês traíram e assassinaram, vocês que receberam a lei por ministério de anjos e não a guardaram.”
Mais uma vez, ele expõe o pecado que eles estavam em pleno processo de cometer, sem meias-palavras.
E quando Paulo está em Atenas, uma cidade repleta de ídolos — o que ele lhes diz? Ele não segue pelo caminho de acusá-los de terem crucificado Cristo, nem de honrarem os profetas com os lábios enquanto os negavam com ações, mas afirma o seguinte: “Sendo, pois, geração de Deus, não devemos pensar que a divindade seja semelhante a ouro, prata ou pedra, trabalhados pela arte e imaginação do homem. Ora, não levou Deus em conta os tempos da ignorância; agora, porém, notifica aos homens que todos, em toda parte, se arrependam, porquanto estabeleceu um dia em que há de julgar o mundo com justiça, por meio de um varão que destinou; e disso deu certeza a todos, ressuscitando-o dentre os mortos.”
Em resumo: seus ídolos são inúteis, adorá-los é tolice, e o verdadeiro Deus ordena que vocês se arrependam antes do dia do juízo. Paulo não era exatamente “sensível aos buscadores”.
Poderíamos examinar todos os outros exemplos, mas você entendeu meu ponto. A diferença entre a maior parte da “pregação do evangelho” de hoje e a dos apóstolos é que a deles exigia coragem de verdade. De fato, as palavras “ousado” ou “ousadia” aparecem 13 vezes em Atos, sempre referindo-se a falar às pessoas.* E é um traço marcadamente ausente na igreja de hoje.
Muitos pregadores modernos gostam de fingir ousadia, proclamando todo tipo de condenações contra pecados que ninguém dos ouvintes está realmente cometendo. Por que você acha que a igreja fica tão feliz em “confrontar” o “racismo”, a “misoginia” ou a “intolerância”? Porque esses não são os pecados prevalentes e socialmente aceitos da nossa era — pelo menos não da forma como a maioria os entende. Esses são os pecados de ontem. Pode parecer corajoso derrubar uma estátua de Baal, mas se você faz isso diante daqueles que só adoram Moloque, isso é apenas uma ousadia performática, não a verdadeira. A imensa maioria dos ouvintes juntará tais condenações à já mencionada verdade do evangelho e pensará que é uma ótima mensagem… para outra pessoa.
A razão de tantos cederem a isso é que tal pregação, embora não produza um motim nem um avivamento, conquistará algum respeito. Nós voluntariamente vendemos nosso direito de primogenitura de ver o Reino avançar com poder em troca do ensopado de aplausos educados.
Agora imagine se esses mesmos pregadores descritos no início deste artigo dessem a mesma apresentação do evangelho, com seus fatos essenciais e teologia ortodoxa, mas a concluíssem com um chamado ao arrependimento real — não apenas de pecados vagos, ou distantes, ou de outras pessoas, mas dos pecados específicos do ouvinte. E se disséssemos às pessoas para abandonarem sua obsessão desenfreada com a imoralidade sexual — da fornicação à homossexualidade? Ou confrontássemos a negação da verdade básica de que, no princípio, Deus os fez homem e mulher, não importa o que você sinta por dentro? Ou os chamássemos a cumprir o mandamento “não matarás” — mesmo que seja uma criança não nascida? Ou se disséssemos que o roubo e a cobiça são pecados condenáveis, mesmo que aconteçam por meio de votos para tirar mais do que pertence ao seu próximo? Ou falássemos sobre desonrar os pais, o que inclui desprezar sua fé, cultura e modo de vida, rotulando-os todos de “intolerantes”? Ou disséssemos que sim, bem compreendido, racismo é pecado — mesmo quando cometido contra pessoas brancas e rotulado de “antirracismo”? E se disséssemos que Jesus os ama e quer perdoar justamente esses pecados? Temos muitas oportunidades de demonstrar coragem bíblica. Simplesmente não queremos.
Para citar John Wesley:
Dai-me cem pregadores que não temam nada além do pecado, e nada desejem além de Deus, e não me importo se são clérigos ou leigos; apenas estes abalarão os portões do inferno e estabelecerão o reino do céu na Terra.
Essa é a pregação que nossa era precisa — e que certamente gerará uma reação.
© Jamie Bambrick, 2024. Publicado com permissão. Texto publicado originalmente em: Gospel Preaching They Can't Ignore | Clear Truth Media
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